Italianos são assim: quando você acha que está abafando, um deles te diz: “vai ver se eu tô na esquina”. Por isso somos chorões, por isso a nossa comida parece uma chacina, e por isso queremos resolver tudo com punhais e metralhadoras.
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Ciência é o singular de uma coisa na verdade plural, ciências. Há várias, e nem todas podem se sentar na mesma mesa.
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O grande escritor é alguém que explica você para você mesmo.
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Louvo a lucidez de quem tem.
Mas quem tem?
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Hoje em dia, só é seguro afirmar que sei lá.
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Gatos são brasileiros: odeiam a leitura.
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Meu credo político é simples:
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toda vez que penso deixa os cara, sou liberal;
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toda vez que penso segura os cara, segura os cara aí, caramba!, sou conservador.
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Gente que ouve as mesmas músicas, veste as mesmas roupas, fuma os mesmos bagulhos, lê os mesmos livros e usa as mesmas gírias desde 1968 só pode ser muito conservadora.
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Em 1968 eu tinha um ano de idade. Meu grande gesto de rebeldia foi atirar um chocalho em algum sargento.
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Estou sentado num banco de praça. Uma senhora feia se senta ao meu lado.
— Sou a Democracia – diz ela.
— Ah! – respondo –, a senhora veio me prender?
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“O homem nasce livre e em todo lugar se encontra acorrentado”, disse Rousseau.
“O homem nasce bebê; e qual o bebê que já foi livre?”, respondeu Gore Vidal.
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Tango mal ouvido soa como turco falando besteira na orelha de mulher uruguaia.
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Antigamente se dizia que a esquerda só se une na cadeia.
Hoje, está claro que isso é prerrogativa da direita.
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Sou taurino biológico, mas estou em transição para Sagitário.
Meu signo, minhas regras.
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“Em pleno 2025.”
O que é que se espera da plenitude de um ano, afinal?
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No Brasil, o dia nacional do livro só é mais popular que o dia nacional da honestidade.
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Na plataforma, em vez do trem, chega um dragão chinês. Comprido, barbudo, vermelho, dentuço, deitando fogo por narinas e escamas. Nos alto-falantes, o aviso:
— O metrô informa: estamos sem paciência.
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Fazer sessenta anos, para um punk, não é uma espécie de fracasso?
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Amigo, não te esqueças: sábio é o que obtém a rosa sem mágoa. Mas tu podes ser trouxa, como eu, e obtê-la espetando os dedos. O que importa entretanto é a rosa: pros dedos há sempre merthiolate.
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Assistir Bê Bê Bê Brazyl é como ser voyeur de uma jaula de gorilas.
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Humildade é a virtude que você perde na mesma hora em que começa a achar que tem.
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O brasileiro desconfia da boa educação porque foi convencido de que tudo o que não for grosseria é hipocrisia.
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As cortinas são uma burca que a gente põe no mundo.
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Faz falta uma Semana de Arte Arcaica.
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— Olha lá o Sambódromo.
— Acelera, por favor, acelera.
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Se você pronunciar bem rápido, alteridade soa como autoridade. Se você pronunciar bem devagar, também.
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Na hora de sair: ele está alimentado? Ele bebeu? E onde ele vai passar a noite? Vai estar seguro? Bem abrigado?
O carro é um cachorro ou um parente velho.
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Bordeaux se dizia Bordéus no Brasil. Pararam de dizer quando certa dama, ouvindo, ficou bordô e desmaiou.
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A gente reclama do Tiririca, mas ele é muito mais bonito, bem-vestido e charmoso do que qualquer presidente argentino.
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Minha vocação, descobri agora, é ser velho. Nisso, finalmente, eu sou bom.
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Manifestante é o cara que quer te convencer de que uma coisa é boa sendo ruim com você.
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A política é como a criação de porcos: necessária, mas ninguém quer morar ao lado do chiqueiro. O ideal seria lembrar dela como lembramos do chiqueiro: de vez em quando, muito de vez em quando, vendo uma orelha ou um focinho no meio do feijão, ou uma cara vermelha no noticiário.
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Admiro a diligência dos autoritários.
Eu sempre fui vadio demais para ser tirano.
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Vi um cartaz dizendo o seguinte: “Uma mente cheia de medos não tem espaço para sonhar”.
Ué, nem para sonhar os sonhos do medo?
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O brasileiro é despreparado para o silêncio.
Se você deixar um brasileiro num lugar silencioso por dez minutos, ele começa a chorar e a pedir que o matem.
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João Gilberto era não uma força, mas uma fraqueza, um gemido, um ai-ai-ai da natureza.
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Do Brasile só me piace a gabirigna e, vá, uma che otra morenigna.
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Em São Paulo, até os mendigos são apressados.
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Em São Paulo, o virado à paulista se chama “virado à paulista” porque dificilmente quem faz e quem pede são paulistas.
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Li por aí que a Independência foi branca e masculina.
E a colônia então era o quê? Trans e cor de abóbora?
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Sou brasileiro, estatura mediana, cresci chupando cana, meu chinelo tem chulé.
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“A vida é muito curta para usar meias sem graça.”
Mas também o é para saber que existem meias engraçadas.
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Quando você diz que não gosta de queijo, as redes sociais entendem que você quer guilhotinar leiteiros, explodir laticínios, incinerar vacas.
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Quis comprar um chapéu, e minha mulher impediu. Para ela, usar chapéu é aceitar a vizinhança da morte.
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A experiência é um guia confiável, mas nem sempre certo.
Ou uma forma rudimentar de estatística.
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Repare: quem chega chamando pelo Brasil (“vamos nessa, Brasil”; “vem comigo, Brasil”; “todos juntos, Brasil”, “bora lá, meu Brasêêêêl”) está sempre pedindo dinheiro.
Mesmo que esteja pedindo voto. Porque pedir voto, na verdade, é pedir dinheiro.
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Imaginação e liberdade são duas palavras de que a turma em geral só vê o lado fofinho. Mas olhe: o Stálin e o Marquês de Sade eram livres e tinham muita imaginação.
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À União da Juventude Socialista corresponderiam, num mundo ideal, a Desunião da Meia Idade Anarquista e a Chacota da Velhice Carbonária.
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Dizem que, quando morreu, Goethe pediu “Luz! Mais luz!”. Millôr Fernandes brincava dizendo que, se ele morresse no Rio dos anos 60, pediria “Telefone! Mais telefone!”. Eu, se morresse no Brasil hoje, bradaria por “Tribunais superiores! Menos tribunais superiores!”.
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A gordura de Coleridge.
Se você sonha que vai a um banquete, e come muito, demais, e acorda dez quilos mais gordo… então o quê?
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No Brasil, ONG quer dizer Organização Neo Governamental.
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Nada tema por enquanto, amigo: o Bolivarianismo não funciona no Brasil, porque aqui Bolívar não é nome de herói, é nome de filho de hippie.
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Se construir saberes é o novo ensinar, então construir tomares há de ser o novo roubar.
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Repare que todo “recorte da realidade” é, no máximo, o acém. O filé mignon da realidade nunca aparece – ao menos, não para você.
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Toda vez que alguém me diz: “Vou ser sincero com você”, me dá vontade de perguntar o que o fez mudar de ideia.
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Para os anos que vêm, amigo, recomendo o alcoolismo.
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Author: Orlando Tosetto

Karen O’Blivious – Senior political correspondent who insists she’s neutral but only interviews people who agree with her.